quarta-feira, abril 20, 2005

Ratzinger e um determinado problema da Alemanha

Joseph Ratzinger é Bento XVI, o novo Papa. A surpresa não aconteceu e foi dada razão a todos os que defendiam que o próximo Papa iria ser de transição. A mesma Igreja que vangloria a acção de João PauloII também exige mudanças profundas, não só em questões doutrinais, mas principalmente no seu funcionamento. O legado de João Paulo II e a sua áurea estariam sempre presente sobre qualquer projecto mais reformista que se apresentasse nesta altura.
Assim que foi conhecido o nome do novo Papa sucederam-se os comentários, as críticas, e, menos, o regozijo. As críticas são as normais, o cardeal alemão é trabalhador, mas obstinado, é inteligente, mas conservador, metódico, mas frio, eficiente, mas pouco cativante. Com este cenário poderíamos estar a descrever a Alemanha! Talvez tenha sido isso que me fez recordar a aposta da Alemanha para o seu marketing turístico, que procura transformar essa imagem do País, provando que a afabilidade pode estar aliada à competência, que a simpatia não é um exclusivo latino. A eficiência germânica irá tão longe?!
Pessoalmente gosto das posições firmes do cardeal belga que defende um outro papel para a Mulher, a descentralização da Igreja, mas nunca acreditei na sua eleição. Da mesma forma, aprecio Claudio Humes, mas esta ainda não era a a hora da América Latina.
A Igreja muda, mas ao seu ritmo. Assim foi e assim vai continuar a ser. Pessoalmente como não crente e mero espectador respeito os seus tempos e espaços e reconheço que existe uma lógica estabelecida, nas actuais posições que confortavelmente designamos de conservadoras.
O novo Papa, enquanto Prefeito para a Congregação para a Doutrina da Fé (não será este o problema?), identificou quatro grandes heresias modernas, nas palavras de Luís Miguel Viana do DN:
1. “Pouca importância dada a Deus, primeira pessoa da Trindade – “Está demasiado sublinhada a natureza humana de Jesus porque não se aceita a ideia de Deus a quem há que dirigir-se de joelhos”;
2. Não considerar a Igreja como mistério – “Para muitos a Igreja é uma sociedade, uma organização puramente humana”;
3. A fé no momento – “Cai a fé na fundação divina”
4. A forma como a Escritura é lida – “Todo o católico deve saber que a sua fé supera todo o novo magistério dos peritos, dos intelectuais” ”.
Se estas referências não carregassem a denominação herética quantos de nós, perante esta análise, nos atreveríamos a dizer que este cenário não existe? Num quadro meramente eclesiástico parecem-me lógicas estas “heresias modernas”. Há neste conteúdo uma verdade que justifica que Ratzinger tenha criado como missão “combater o cansaço da Fé”. Será uma grande ou pequena mudança? Haverá sequer mudança?
Mas afinal, porque procuramos todos mudar a Igreja? Crentes e não-crentes? Principalmente os últimos? Será essa a mensagem mais valiosa que a Igreja tem para nos oferecer?
Esta continuará a ser uma das grandes questões no seio da Igreja e o próximo Papa irá, certamente, surgir de linha mais dinâmica, menos doutrinal e mais humana. Talvez por isso Ratzinger será útil e fiável, como só os alemães sabem ser.

1 comentário:

Anónimo disse...

É sabido que a escolha do Cardeal Ratzinger não era propriamente uma surpresa e muito já se disse sobre o seu conservadorismo. Pessoalmente mantenho as minhas dúvidas, mas parece-me que acima de tudo, não é a altura mais indicada para começar a dissecar o tema. A eleição não fez ainda 24 horas e, apesar da sua avançada idade, vou dar tempo para a sua adaptação ao cargo supremo da Igreja Católica (e um dos mais altos cargos em geral) e dar o meu benefício da dúvida. Espero o melhor...