O dia de ontem marcou meio século desde a morte de Einstein. Morte física, pois a sua projecção estendeu-se indelével no tempo e no espaço, no espaço-tempo que lhe valeu a glória e que fundou as bases para a ciência moderna. Foi o físico mais famoso de sempre, o paradigma do génio nas suas diversas componentes – excêntrico, inteligente, incompreendido. Mas a sua influência atravessou outras fronteiras para além da ciência, em particular pelas posições corajosas, logo incómodas, assumidas em questões políticas.
No ano em que se comemora também o centenário das suas contribuições para a Física, em particular a sua teoria da relatividade restrita, ano mundial da Física, era importante que para além das invocações, comemorações e aparato próprio do momento, este fosse um ano de mudança da atitude do país, das pessoas, para com a actividade científica. Daí a razão de escrever este artigo no dia seguinte ao evento. Porque, o evento é efémero e difícil é preservar vontades para progredir.
Portugal apresenta défices de competências e resultados ultrajantes em áreas de conhecimento fulcrais como a Física e Matemática para um país que procura afirmar-se no quadro dos países mais desenvolvidos. Os problemas estão identificados, mas a inércia (de Newton) tem sido obstáculo inultrapassável, o que é difícil explicar até no quadro das teorias de Einstein, porque a velocidade de execução é extremamente baixa! Note-se que estamos a falar de resultados médios, pois seria muito injusto não reconhecer que existem centros de competências com trabalho de muita qualidade e reconhecimento internacional.
Mas, como é que se pode contribuir para resolver estes problemas? Dou-vos um exemplo. Um exemplo prático e testado. Porque “a verdade é o que passa o teste da experiência”. Estudei numa escola secundária que, como a maioria das escolas em Portugal, tinha muito poucas condições ao nível de laboratórios e material didáctico de suporte à aprendizagem da Física e da Química. A maioria dos professores evitava o ensino prático e os estímulos por via dos jogos e da constante estimulação intelectual dos alunos. Limitavam-se a cumprir o programa teórico. No entanto, houve um professor de Física, Carlos Diz, que me acompanhou ao longo de 4 anos e me influenciou decisivamente na minha escolha futura pela Física. A esmagadora maioria dos meus colegas seguiu também áreas de engenharia, sob a mesma influência. Este professor tinha uma curiosidade incrível pelos fenómenos naturais. Lembro-me de estudar electromagnetismo e ver simulações de ondas sinusoidais, recorrendo a cordas do ginásio da escola, com dois alunos em cada ponta a agitarem-nas. Lembro-me de interrompermos o programa das aulas para discutirmos paradoxos, como o do gato de Schrödinger. Houve observações de planetas, projectos de foguetes, etc… Pergunta: será assim tão difícil estimular os alunos para as ciências?!
A grande causa para a divergência entre as políticas e os resultados práticos é, em minha opinião, um grande afastamento da realidade. É essencialmente um problema de gestão, centrado na falta de capacidade de execução. Ninguém consegue executar aquilo com que não se sente confortável. Nem há motivação nem, consequentemente, mobilização. Podem ser produzidos programas fantásticos, do ponto de vista teórico, mas se quem conhece de perto a realidade não se rever nos mesmos e não forem disponibilizadas condições humanas e materiais para a sua execução, para que servem então? Quando por vezes tudo é tão simples e com pequenos investimentos se conseguem resultados tão bons.
Para quem tem filhos, um conselho. Experimentem levá-los a uma visita ao Planetário Calouste Gulbenkian. Se tiverem possibilidades comprem um telescópio barato, vão a uma praia à noite ou a um sítio plano e observem as estrelas com os vossos filhos. É uma experiência fantástica e desperta o gosto pela ciência. Porque as crianças são naturalmente curiosas. Só necessitam de estímulos!
“O importante é não pararmos de nos questionar. A curiosidade tem a sua razão de existência”
Termino, agradecendo a Albert Einstein pelas suas contribuições pelo seu carácter e pela influência que exerceu em mim.
Obrigado Einstein.
Notas:
As citações são de autoria de Albert Einstein.
Para saber mais sobre Einstein recomendo vivamente a sua biografia de título “Subtil é o Senhor”, escrita por outro grande físico, Abraham Pais e publicada pela Gradiva na colecção ciência aberta.
Portugal apresenta défices de competências e resultados ultrajantes em áreas de conhecimento fulcrais como a Física e Matemática para um país que procura afirmar-se no quadro dos países mais desenvolvidos. Os problemas estão identificados, mas a inércia (de Newton) tem sido obstáculo inultrapassável, o que é difícil explicar até no quadro das teorias de Einstein, porque a velocidade de execução é extremamente baixa! Note-se que estamos a falar de resultados médios, pois seria muito injusto não reconhecer que existem centros de competências com trabalho de muita qualidade e reconhecimento internacional.
Mas, como é que se pode contribuir para resolver estes problemas? Dou-vos um exemplo. Um exemplo prático e testado. Porque “a verdade é o que passa o teste da experiência”. Estudei numa escola secundária que, como a maioria das escolas em Portugal, tinha muito poucas condições ao nível de laboratórios e material didáctico de suporte à aprendizagem da Física e da Química. A maioria dos professores evitava o ensino prático e os estímulos por via dos jogos e da constante estimulação intelectual dos alunos. Limitavam-se a cumprir o programa teórico. No entanto, houve um professor de Física, Carlos Diz, que me acompanhou ao longo de 4 anos e me influenciou decisivamente na minha escolha futura pela Física. A esmagadora maioria dos meus colegas seguiu também áreas de engenharia, sob a mesma influência. Este professor tinha uma curiosidade incrível pelos fenómenos naturais. Lembro-me de estudar electromagnetismo e ver simulações de ondas sinusoidais, recorrendo a cordas do ginásio da escola, com dois alunos em cada ponta a agitarem-nas. Lembro-me de interrompermos o programa das aulas para discutirmos paradoxos, como o do gato de Schrödinger. Houve observações de planetas, projectos de foguetes, etc… Pergunta: será assim tão difícil estimular os alunos para as ciências?!
A grande causa para a divergência entre as políticas e os resultados práticos é, em minha opinião, um grande afastamento da realidade. É essencialmente um problema de gestão, centrado na falta de capacidade de execução. Ninguém consegue executar aquilo com que não se sente confortável. Nem há motivação nem, consequentemente, mobilização. Podem ser produzidos programas fantásticos, do ponto de vista teórico, mas se quem conhece de perto a realidade não se rever nos mesmos e não forem disponibilizadas condições humanas e materiais para a sua execução, para que servem então? Quando por vezes tudo é tão simples e com pequenos investimentos se conseguem resultados tão bons.
Para quem tem filhos, um conselho. Experimentem levá-los a uma visita ao Planetário Calouste Gulbenkian. Se tiverem possibilidades comprem um telescópio barato, vão a uma praia à noite ou a um sítio plano e observem as estrelas com os vossos filhos. É uma experiência fantástica e desperta o gosto pela ciência. Porque as crianças são naturalmente curiosas. Só necessitam de estímulos!
“O importante é não pararmos de nos questionar. A curiosidade tem a sua razão de existência”
Termino, agradecendo a Albert Einstein pelas suas contribuições pelo seu carácter e pela influência que exerceu em mim.
Obrigado Einstein.
Notas:
As citações são de autoria de Albert Einstein.
Para saber mais sobre Einstein recomendo vivamente a sua biografia de título “Subtil é o Senhor”, escrita por outro grande físico, Abraham Pais e publicada pela Gradiva na colecção ciência aberta.
Cristovão Matos
Nota do blogger: Texto da autoria do meu amigo Cristovão Matos. Uma esperança para o desenvolvimento da Sociedade do Conhecimento em Portugal!
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