terça-feira, fevereiro 01, 2005

Nova Ordem Mundial?

O fenómeno tsunami agitou novamente consciências para as realidades dramáticas que se vivem no Mundo, para a disparidade entre ricos e pobres. O Mundo, de uma forma geral, sentiu-se bem na solidariedade depois da tragédia. Para activistas dos Direitos Humanos e ONG’s, neste momento, a expectativa é capitalizar a atenção e generosidade mundial para a realidade que de tão falada, já não nos toca. Toda a nossa vida somos acompanhados pelas imagens de desespero em África, pela crueldade atávica de líderes do terror sobre populações de sobreviventes. Nestas alturas o Mundo demonstra as suas duas faces, a desinteressada e solidária que presta o apoio possível e a cruel e vampiresca, que suga até à exaustão recursos naturais, depois de durante tantos séculos ter explorado também os recursos humanos do continente mágico.
Não sejamos ingénuos, as acções consertadas dos Estados movem-se sempre pelos interesses particulares do país que as lança e só depois pelos interesses gerais. A afirmação de uma política solidária e de combate à pobreza extrema pode bem vir a ser a nova corrente da geoestratégia mundial. O tsunami do sudoeste asiático demonstra isso mesmo, com os Estados Unidos a reverem os valores financeiros do seu apoio depois das ofertas incríveis da União Europeia. Neste caso concreto revelou-se ainda a inconsistência e o cinismo daqueles que se fazem valer da designação “Mundo Islâmico” para alcançarem os seus objectivos mais ou menos obscuros. Onde estão os apoios avultados dos grandes países árabes de famílias reais escandalosamente milionárias?
O epicentro mediático do combate à pobreza está novamente centrado em África devido ao lançamento do programa de combate à pobreza lançada pelas Nações Unidas, que propõe metas muito claras e objectivas. A próxima jogada começa do nosso lado. Tony Blair e Gordon Brown lançaram as bases com um aumento significativo das ofertas humanitárias para o continente africano e apelando ao mundo para que siga a Grã-Bretanha. Fiel ao cada vez mais reforçado estatuto de softpower, a Grã-Bretanha mantém a aliança umbilical com os Estados Unidos, mas marca a diferença pela atitude menos beligerante. A Europa (restante) que abandone as actuais posições professorais e explique ao Mundo qual a alternativa que propõe.
Quando Sharon Stone se levantou na Cimeira de Davos e angariou um milhão de dólares em cinco minutos, para a compra de redes mosquiteiras, emocionei-me, porque morre gente em África a quem faltam meios eficazes e baratos de prevenção da malária. Quando Bill Gates faz donativos astronómicos para programas de vacinação infantil (750 milhões de Dólares), para criar uma vacina contra a malária e oferece milhares de computadores a escolas de todo o Mundo emociono-me porque há humildade nessas acções. A América e os Americanos são assim mesmo, imprevisíveis no bom e no mau sentido, não esperam que o Estado resolva todos os problemas, inquieta-se e avança. É assim que funciona a Democracia.
Nós, portugueses, passamos por mais um tormento eleitoral assemelhando-nos cada vez mais a um ilhéu num estado pré sociedade da informação. Para os nossos líderes, Davos é longínquo, África é onde ficam as ex-colónias, a América do Sul é um bom local de férias e a América e a Grã-Bretanha são os aliados (ou os inimigos). E nós? O que somos? Onde estamos? Não acredito que estejamos a viver uma Nova Ordem mundial, mas gostaria de ouvir uma ideia do meu país sobre o assunto, pelo menos, por uma ocasião, cedêssemos a base das Lajes para um comboio aéreo que acabasse com a tragédia em Darfur, por exemplo.

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