quarta-feira, novembro 24, 2004

Post-it urbano III

Leitura e alguma pornografia

Para os que possuem algumas referências do rico universo da pornografia americana poderão detectar a seguinte descrição e perceberão o porquê de ontem à noite ter encontrado uma das maiores vedetas masculinas, desse ofício, no Bairro Alto. Enquanto estava agarrado a uma loura, ali, a duas mesas, estava ele. Corpo baixo, barriga proeminente, bigode a escovar o lábio inferior, careca debruada pelo cabelo desgrenhado até à nuca e ar atingido por laivos de insanidade. Certamente, à semelhança do sósia americano, será revestido por uma farta penugem de símio, mas isso não me parece nada interessante (arrisco-me a transformar este blog num espaço de bizarria. Já chega estar sempre a falar de política...).
A personagem de ontem lia, não se mexia, pegava no livro como os melhores actores shakespearianos, bem no alto. O livro forrado a papel almaço também ajudava a dar um ar coevo à cena. Na mesa, o álcool companheiro, elixir ou laxante intelectual, ajudava a combater a solidão, mas carregava ainda mais a expressão. Nem mesmo a entrada do Pai-Natal rasta, que se deliciava com a juke box e em diálogos monólogos, a sua atenção se desviou do papel acidificado, amarelecido em bancas de rua.Está na hora de fechar, o café e o livro, amanhã certamente está de volta, refugiado da entrada, atrás do biombo, na parte mais discreta do café, declamando em silêncio as palavras decifradas pelos olhos hostis aos humanos, mas não às suas criações.


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