sábado, novembro 19, 2005

O último patamar da Gestão?


Nunca como agora se falou tanto em gestão. Pessoalmente rendi-me ao jargão e recorro com frequência. Talvez demasiada frequência. Todas as minhas áreas de aptidão profissional já levaram este “prefixo”. Gestão cultural, gestão do património, gestão documental, gestão da informação, gestão da mudança, mas nenhuma é tão apaixonante como a gestão do conhecimento. Correndo o risco de vulgarizar o conceito, imaginem a hipótese de pensarmos e implementarmos uma estratégia para gerir o conhecimento que cada um tem na sua mente. Já anteriormente houve sermão neste templo sobre asssuntos similares, no entanto a pergunta que se me coloca é extensível a todos os que me lêem: depois disto ainda é possível ir mais além quando se fala em gestão?
Esta versatilidade e transversalidade do conceito encarna um paradoxo interessante. Gestão implica uma racionalização na abordagem a conceitos, recursos, contexto e produção. Da razoabilidade da sua implementação depende o seu sucesso. O paradoxo, pelo menos aparente, prende-se com a extensão a domínios que anteriormente eram considerados intangíveis ou inatingíveis, como a intuição, as emoções e a inteligência. Poderá a razão ser aplicada em domínios como estes? Aquilo que percebemos todos, principalmente as grandes empresas que implementam estes conceitos como a panaceia para os males da competitividade, é que fazemos parte de um sistema mais complexo do que se poderia imaginar. Naturalmente o homem é parte integrante do sistema, mas aquilo que mais interessa, neste momento é o facto das actividades humanas possuírem entre si uma conexão tão forte. Perceber as dinâmicas em que se estabelecem é procurar compreender as respostas que tantas àreas carecem, gerando desenvolvimento. Gerir já não é só executar, projectar ou mandar. Gerir já é lidar, fomentar, motivar, aumentar, interpretar, mudar e arriscar. Talvez por isso todas as àreas comecem a perceber que existe uma vantagem competitiva em gerir com G grande. Para além disso, praticamente todas as áreas da nossa actividade carecem de financiamento ou sustentabilidade económica, isso implica conhecimento interno e externo e capacidade de acção, reacção e antecipação perante a mudança.
O Mundo não tem menos dinheiro. O que mudou é a muiltiplicidade de vias por onde circula e a quantidade de formas como é gasto ou investido. Até gastar implica conhecer.
Na informação o cenário presente já não se reporta à quantidade, nem à qualidade. Se a primeira nem sempre ouve, já a segunda não tenho dúvidas que esteve sempre presente. O cenário presente está ligado à acessibilidade, mas não da forma de “fim da História” como é apresentada pelos mais acirrados defensores das “novas tecnologias”. Poderemos comparar o impacto de uma nova tecnologia como foi a imprensa e estabelecer analogias com o Presente? Parece-me uma discussão estéril. O mesmo poderiámos referir relativamente ao conhecimento. Daremos nós maior importância ao conhecimento do que, por exemplo, as comunidades monásticas no período medieval? À escala da época o seu esforço é igualmente hercúleo. Neste caso a diferença é que o papel de repositório e transmissor era plenamente assumido, mas relativamente ao conhecimento partilhado pelo pergaminho ou criado para ser transmitido. O Presente não se contenta com isso, não aguenta esperar a etapa da criação e procura gerir o conhecimento ainda no interior da nossa mente. A antecipação pode ser impura na forma, mas aproveitável no conteúdo. Como sabemos todos: “Tempo é dinheiro”. Apesar de nos dias que correm até isto está a ser questionado!
O capital intelectual gerado por uma estratégia eficaz de gestão do conhecimento é uma vantagem que empresas, governos e instituições diversas não podem descurar. O Futuro alimenta-se de conceitos estimulantes, mesmo que alguns insistam em antecipar cenários catastrofistas, onde a gestão seja ultrapassada por formas tirânicas de submissão. Por mais ténue que possa parecer essa fronteira, se o Homem sempre tivesse pensado dessa forma ainda não mereceríamos os dois sapiens que nos designam.

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