sexta-feira, novembro 11, 2005

No meio dos extremos está o meu lugar

Na vaga de pessimismo nacional que nos assola vai para décadas, nas declarações de falência e de arresto que passamos a nós próprios todos os dias, nasce a contra-proposta mobilizadora para Portugal: Não somos assim; Temos futuro, desde que assim o queiramos enquanto povo.
O visionarismo de economistas e especialistas em finanças públicas, por mais iluminadas que sejam as suas palavras, revela uma dificuldade crónica de nos perceber enquanto povo. O centracionismo do discurso político na crise económica, que por enquanto ainda não nos atingiu, provoca este sentimento de país a saque, em que todos afirmam, notícia após notícia, que o último a sair, pelo menos feche, a porta. Cépticos, pessimistas têm voz e palavras, nas televisões e imprensa, com crítica fácil, ataque aos políticos, empresários, funcionários públicos, etc. Como todo o movimento massificado desperta sempre uma via oposta, também Portugal assiste desconfiado a uma vaga de luso-optimismo que procura inverter este ambiente soturno, descrente, mas principalmente, gravosamente despreocupado. Adaptando, descontextualizando, as palavras de Hanah Arendt: “Sob um estado de terror a maior parte das pessoas obedecerá, mas algumas não o farão” . Assim acredito, mesmo que a minha crença sea desprovida da força da filosofia e da delícia do conceito de “Amor Mundi” defendido pela mesma pensadora.
Antropomorfomizando o país, Portugal precisa de alguém que o pense desta forma, de alguém que crie um “Amor Luso”, que não seja um exilado da esperança, um refugiado da convicção. Portugal precisa de quem acredite. Não de optimistas inveterados, que se refugiam na esperança de que o Futuro não pode ser pior que o Presente. O país precisa de moderação.
Moderação, no sentido de equilíbrio, sem amorfismos, com a dinâmica que permita perceber que o futuro do país passa tanto pelos números contabilísticos, como pela conversa de psicanálise, pela aprendizagem, pela abertura de horizontes internos e externos. A moderação pode ser intrínseca enquanto característica de personalidade, mas no sentido, quase político-social que refiro, só se consegue através de duas formas: a primeira é a Educação; a segunda é a Justiça.
Enquanto assim não for quem ouve as palavras de optimistas lúcidos como Sobrinho Simões? “Nós como povo somos imbatíveis” – disse-lo no seu tom sereno, em onda média, mal captada por tantos portugueses. Não grita, porque a verdade sempre se revela, mesmo que demore tempo. Falou de investigação nos vinhos, na medicina, em tecnologia de ponta, pairando sempre a ideia de que Portugal é um país capaz. Capaz de o ser e de se fazer. Numa vanguarda enraízada também naquilo que fomos.
Sem comparações com o Prémio Pessoa de 2002, é este o lugar onde quero estar. É este o lugar onde acredito que se pode mudar Portugal, mudando nós próprios o nosso quotidiano, onde por mais críticas que possamos fazer durante o dia, no final o balanço tem de ser sempre de esperança. Um país que mude e se renove é a melhor forma de acelerar as mudanças de que o regime enfraquecido carece. Sem fantasmas, sem receios de vizinhos peninsulares ou ameaças intercontinentais. O Mundo, acima de tudo, continua a ser o lugar onde prevalecem os mais aptos, acima dos maiores ou mais fortes, os moderados em detrimento dos fundamentalistas. É neste sentido que devemos caminhar.
Não estamos falidos, nem estamos ricos. Não estamos no caos, nem precisamos de autoritarismos. Não estamos na ignorância, nem somos cultos. Assim sendo não precisamos de vagas de fundo de salvadores e opinadores, mas apenas que todos nós, no nosso dia-a-dia façamos melhor, vencendo a mediocridade e a inveja.
No meio dos extremos está o meu lugar. E o vosso?

Sem comentários: