domingo, outubro 23, 2005

A modernidade da Política


Modernidade e Política são palavras aparentemente incompatíveis, em parte devido a um postulado solidamente implantado na consciência colectiva. A velocidade do Mundo há muito não é acompanhada pela da Política. Por este blog têm passado muitas opiniões referindo-se ao mundo empresarial como o exemplo de onde brotam as melhores práticas. Se tivéssemos de escolher um sector da nossa sociedade que servisse de referência muitos falariam da economia, em geral, e, em particular, das empresas. Muito interessante poderia ser uma resposta alternativa ou acopulada, que outros forneceriam: a Ciência.
Naturalmente, nestas linhas faço conjecturas, à laia de ensaio empírico, mas um estudo científico poderia fornecer resultados que certamente seriam surpreendentes.
As últimas décadas têm sido de proveitoso desenvolvimento científico e tecnológico com alterações verdadeiramente significativas e transversais à sociedade, que hoje assume a pomposa designação de conhecimento. Na verdade sempre o foi, a posse do conheciemnto foi disputada, controlada e difundida ao longo da História. A diferença é que nunca, na teoria, foi possível a tantos de nós atingirem a estratosfera do saber como o é actualmente. No seguimento desta evolução radical, expressão que prefiro a revolução, surgiram novas economias que, por momentos, viram nas soluções tecnológicas a resolução dos problemas da velha economia. No entanto, à medida que se investiam somas astronómicas na investigação e desenvolvimento científico e tecnológico, cedo o Mundo percebeu que as vantagens competitivas da tecnologia seriam democráticas e não permitiriam fazer a diferenciação pela positiva nas suas economias. Quem o poderia fazer? As pessoas. A era da mão-de-obra industrial deixou de ser, a partir deste momento, a referência laboral e competitiva. Desenvolvem-se correntes em áreas extaordinariamente interessantes, com as quais sempre convivemos, mas para as quais nunca tivemos uma resposta cientifica que permitisse desenvolver pedagogias.
Sempre o Mundo esteve atento à inteligência, nas suas formas tradicionais, aplicada às letras, às artes, à ciência. Os seus expoentes eram requisitados como elementos úteis para o puro prazer e deleite dos privilegiados, mas também eles comuns mortais.
Actualmente, gestores, cientistas, psicólogos, gestores de talentos, desmultiplicaram a inteligència em campos aparentemente distintos, mas do seu equilíbrio nasce a referência. Surge por exemplo a inteligência emocional e a inteligência intuiva. O saber cumulativo de dossiers, papers, projectos e artigos de referência vêem o seu predomínio ser assaltado pela vaga do conhecimento que o nosso cérebro foi arquivando ao longo da nossa vida. Aqueles que melhor partido tiram do seu inconsciente adaptativo, nas palavras dre Malcom Galdwell, possuem uma vantagem que transforma a intuição numa forma de antecipar resoluções e decisões que só mais tarde poderiam ser fundamentadas racionalmente.
Ora se este é um conceito – inteligência intuitiva – que cresce nas empresas e organizações de referência como um dos sinais de vanguarda e inovação, então poderemos afirmar que a nunca a Política deixou de estar no limiar da modernidade. Em que outra àrea da nossa civilização a tomada de decisões ainda é efectuada de forma tão empírica e baseada em instintos, estereótipos, arquétipos ou “impressões”? Quantos de nós não incluímos imediatamente políticos na nossa lista negra baseada numa primeira impressão?
Deveremos desconfiar do nosso instinto ou da nossa inteligência intuitiva? Certamente que não. Aquilo que acrescento a este conceito é uma reserva consciente. Creio que o conceito não existe, pelos menos com esta terminologia, mas é algo que gosto de seguir na minha vida. Confiar na primeira impressão, mas reservando espaço para a consciência, nas posse de mais informação, fundamentar ou não a opinião. Como em diversas áreas da nossa vivência quotidiana, também o juízo político deve ser alimentado e trabalhado tendo como referência estes conceitos.

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