domingo, outubro 23, 2005

Cavaco Silva é candidato

Desfez-se o tabu. Mais um. Cavaco assumiu a sua candidatura e fê-lo ao seu melhor estilo. Independente, sóbrio e com a autoridade que nasce da responsabilidade. Não entrou em discursos apagógicos, antecipando evenutais críticas e esvaziando-as de conteúdo. Poderia ter começado por justificar, defenitivamente, porque demorou tanto tempo a tornar pública a sua decisão. Creio que fez muito bem, isso é apenas um facto paralelo, ruído, como se diz actualmente. A mensagem implicava um providencialismo que Cavaco gosta particularmente, assim como Soares, uma vontade de se afirmar como o português anti-resignação, inconformado e competente. Na verdade Cavaco reune essas qualidades e faz delas o seu trunfo e consegue que superem as suas fragilidades que se tornariam letais em políticos com limitações técnicas. No discurso fala sempre de Economia, essa é a sua especialidade. No contacto humano é seco, pois a naturalidade e a simpatia não são as marcas que o referenciam para a maioria dos portugueses. A exposição mediática é reservada e programada ao milímetro e tem sempre presente a ideia de que a comunicação social é uma ondulação que facilmente se transforma um tsunami. Cavaco não quer ser o fenómeno, esse será o seu discurso e, principalmente, a sua acção político. Esta é uma diferença significativa para Mário Soares.
À medida que vou escrevendo estas linhas estão a ser divulgadas as primeira peças da comunicação política de Cavaco Silva. Cartazes com a bandeira nacional, sem o laranja do PSD, e um slogan que será este: Precisamos de Si. O “Si” seremos todos nós eleitores, mas também o Si(lva), Cavaco. Que melhor imagem e slogan para personalizar aquilo que acabei de escrever!?
Dando pouco cavaco, aí está o mais que provável candidato a Presidente da República. Tem feito tudo bem, manteve o seu eleitorado fiel, mas ao mesmo tempo assume-se como o único candidato transversal ao nosso roteiro político. Confere umacompetência técnica em período de estagnação económica e ataca aquele que é o maior receio de muitos portugueses. Será ele presidente para destituir o Governo? Ninguém melhor do que eu sabe qual a importância da estabilidade para o desenvolvimento do país. Está dito. O professor não afirma duas vezes, n ão precisa, nem os portugueses esperam isso, talvez seja por isso que tantos gostam dele. Dos eleitores de Valentim Loureiro aos professores universitários e quadros de empresa, há uma argamassa que os une a Cavaco Silva, mesmo que em tudo o resto se escave uma diferença abissal.

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