quarta-feira, setembro 07, 2005

A Ilusão do “El País”

Depois de um sábio concelho do meu pai sobre a imperiosa necessidade de ler o dossier do El País sobre a conjuntura portuguesa, o mínimo que posso fazer é agradecer-lhe! Os textos escritos por Margarida Pinto – uma portuguesa, presumo – são um retrato fiel e muito completo. Por lá desfilam economistas, pensadores e políticos. O Verão queimado é apenas o ponto de partida e a candidatura de Mário Soares o culminar.
Ganhando embalagem na recordação do artigo faço uma pequena provocação: o providencialismo de que Mário Soares gosta de encarnar mais do que a cura é o sintoma da nossa doença. Será?
Voltando ao texto... Portugal merece uma coluna do editorial que acaba num tom positivo, afirmando que o país se desenvolveu bastante apesar do abandono do mundo rural e que aos portugueses apenas falta recuperar uma coisa: a ilusão.
Estou de acordo quase na totalidade. No entanto, a questão é saber como nasce a ilusão... Só poderá nascer de um projecto, eventualmente de uma ideia, de um conceito. Será que temos alguma no Presente? Creio que sim, mas não está desenvolvida de forma a que possa atingir essa aura de ilusão e consequentemente de esperança.
A nossa ilusão terá de ser o Futuro, das novas tecnologias e de novos territórios:
As novas tecnologias e o conhecimento são a argamassa e as fundações do desenvolvimento para países da nossa dimensão. Todos o sabemos, até os políticos já o perceberam começando a tomar algumas medidas importantes, mas a evolução passa por uma assimilação cultural do conhecimento científico como prioridade incontornável;
Novos territórios, principalmente atlânticos, continentais como o Brasil, mas principalmente o Atlântico, o Mar; Há ainda, dentro de portas a valorização ambiental e económica da paisagem rural abandonada.
Um país não se limita a uma ou duas utopias, mesmo que sejam estratégicas, a sua existência não invalida que a indústria continue a produzir produtos de referência nos têxteis, na cerâmica, na maquinaria; que o turismo continue a vender o sol e mar. Nem tudo na economia é valor acrescentado, há também muito de subsistência.
A ilusão será sempre aquilo que nos motiva e nos empurra para um patamar superior à normalidade. O que somos hoje, não nos permite fazer isso, como diz José Gil, os portugueses andam susceptíveis, pequenos factos assumem proporções gigantescas e geralmente dramáticas. Há uma valorização excessiva do acessório enquanto referencial do que somos enquanto país. Não somos assim tão maus, nem assim tão pequenos, querem ver um exemplo? Desfolhando mais umas páginas do mesmo jornal reparem no que encontrei: uma reportagem sobre a música do Mundo com Marisa como primeiro destaque; reportagem sobre gastronomia nas famílias da Austrália, entre os produtos da mesa de uma das famílias, está o Mateus Rosé; na entrevista ao presidente da Pioneer fala-se da fábrica do grupo em Portugal cuja competitividade actual terá de ser mantida e aumentada, vejam o que o mesmo senhor diz sobre a França nas citações que coloquei na barra lateral; Peter Swatman da Climate Change Control define Portugal e Espanha como uma prioridade para essa instituição financeira. O Mundo e o nosso lugar não está claro, mas a permanente visão do abismo só nos acelerará a dar o passo em frente. Não se esqueçam que há muitos que afirmam: “Portugal, the first global village”. Impressionante não é?

1 comentário:

Anónimo disse...

Não acredito na ilusão porque tem associado implicitamente um carácter fraudulento. Necessitamos antes de definir muito claramente a "visão". Como queremos ver Portugal no futuro? Quais são os nossos factores diferenciadores dos outros países, em particular europeus? De que forma podemos aproveitá-los e potenciá-los para nos afirmarmos? O problema consiste em andarmos muito entretidos em apagar os fogos do presente (em sentido figurado, porque os outros não os conseguimos apagar), a criticar tudo e todos, à procura de soluções, mas para quê? Se não soubermos para onde queremos ir dificilmente alguém nos conseguirá indicar o caminho...