Ideia estúpida e perigosa que continua a grassar pelo nosso país atravessando extractos sociais, empresários e até políticos. Sou contra estas profecias assassinas, as exigências moralistas fundamentalistas, a falta de bom-senso que impera no nosso país. Porque continuo a achar que é isso que falta, bom-senso. É subjectivo, mas existe noutros lados. Em Portugal somos contra porque somos alinhados e somos a favor porque se não o fizermos somos desalinhados. Onde pára a razão nesta maneira de estar? Discutimos o acessório e somos incapazes de nos entendermos no óbvio. Não deveríamos falar de impostos nas eleições, são assuntos da maior seriedade e a responsabilidade com que se deveria lidar com eles mereceria alguma reserva na exposição pública. Deveríamos ser inflexíveis na prossecução da igualdade de deveres e direitos de todos os cidadãos, mas permitimos a impunidade entre as forças de autoridade que ameaçam cortar infra-estruturas rodoviárias, ofendem o ministro da tutela e fazem essa coisa extraordinária que pomposamente designam como: greve de zelo. Qem serão os próximos a abandonar o zelo? Os médicos? Irão prescrever medicamentos para as dores menores ou irão intervir apenas nos casos de vida ou morte? Serão os sargentos das nossas Forças Armadas a defender um subsistema de saúde para 50 mil militares, mas do qual beneficiam 250 mil pessoas? Ou virão os estagiários para professores que beneficiaram, em regime de exclusividade, de estágios remunerados que apenas lhes garantiam o acesso… ao subsídio de desemprego!? Teremos ainda os professores que quererão passar menos tempo nas escolas, culpando apenas as reformas curriculares pelo insucesso e querendo continuar com um sistema de formação profissional que lhes permite subir na carreira com cursos de Tai-Chi Chuan! Não nos esqueçamos de outras classes desfavorecidas como os juízes e as suas famigeradas férias judiciais, socorridos por leis salomónicas, que aumentam o valor dos limites fraudulentos para descongestionar os tribunais.
Falta realmente bom-senso para nos fazer encarar o próximo como parte integrante de um país, o nosso. Aquele do qual deveríamos gostar e lutar. Também nós ganharíamos individualmente. Estou farto destas lamúrias nacionais, dos sindicatos agonizantes, dos patrões de esquemas.
Aos sindicatos o primeiro-ministro só deveria dizer uma coisa: escolham os 250 mil ou 300 mil funcionários públicos que vamos demitir para manter os direitos vitalícios que tanto defendem. Qual seria a reacção?
Aos empresários basta mostrar até a exaustão os casos de sucesso. Porque funcionam bem as empresas de telecomunicações móveis em Portugal? Cultura de valor e concorrência. E porque têm iniciativa. Precisamos dela desesperadamente, não só na economia, mas também enquanto sociedade. Trinta anos depois continuamos a viver no já célebre “Medo de existir”, de que fala José Gil. Não falamos porque temos medo de não ter emprego, de criar inimigos, de sermos perseguidos. Enquanto assim for vence a mediocridade.
Eu pago o meu preço pelas minhas palavras. Sou um Sem-Contrato como tantos outros, trabalho a recibos verdes, ganho pouco, apesar de a partir de 2006 as contribuições para a Segurança Social irem aumentar 50%. Muitos de nós não vamos conseguir essa quantia indispensável para tantos jovens, mas uma autêntica esmola para tapar esse buraco criado pela incúria. Para nós não há Segurança Social, nem laboral, nem económica. A nós não nos restam direitos sociais, baixas médicas ou subsídios de desemprego ou seguros de trabalho, no entanto não há greves. Porque há um percurso a fazer onde o sacrifício de hoje tem de valer o Futuro, por isso não podemos deixar de acreditar que Portugal é viável. É esta a refrega que muitos ministros académicos não compreendem, porque podem ser descrentes no futuro e não acreditar no seu país. Para mim é essa a verdadeira fraude eleitoral, o não tomar medidas impopulares ou os receios eleitoralistas.
Se assim não fosse só me restava uma solução, emigrar. Por tudo isso me custa que aqueles que podendo fazer não tenham a coragem de resistir a desistir, de lutar por aquilo que acreditam como se fosse a convicção mais forte da sua vida e que, ainda por cima, saiam alegando motivos familiares e cansaço. O ministro Campos e Cunha desistiu porque não resistiu, às corporações, à clubite dos partidos políticos (especialmente do partido do governo) e às ambições dos seus colegas ministros. Como sempre faltou aquilo que mais falta no nosso país: bom-senso.
Se pertencem ao grupo dos senhores e senhoras que defendem a inviabilidade do nosso país e nos flagelam com negativismo, esperando encontrar neste texto algum consolo, desenganem-se! Talvez devam ler o estudo, trazido a lume por João César das Neves, feito por um grupo de especialistas internacionais e que coloca Portugal como um caso extraordinário de desenvolvimento nos últimos 50 anos. Como pode um país onde os governos nunca fizeram as reformas estruturais indispensáveis atingir estes patamares? Foi a pergunta feita por aquelas cabeças. A resposta: através da iniciativa privada, do improviso e do carácter inventivo do portugês. Com maior dinâmica invididual, acreditando que é possível e perdendo menos tempo com os problemas dos outros seríamos muito melhores.
Abandonem o miserabilismo. Se o ministro das finanças desistiu não façam o mesmo. Pelo menos no meu caso vou andar por cá a dar pulinhos para tentar chegar aos ouvidos de alguém que ouça…
Há por aí alguém a ouvir?
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