domingo, julho 17, 2005

Big Band

Jacinta actuou com a Big Band do Município da Nazaré. Esta será a notícia em qualquer órgão de informação que se preze, mas como estamos na blogosfera podemos chamar à atenção para as outras notícias, as menos evidentes, mas mais estimulantes.
Gosto de ouvir cantar a Jacinta, mas, no entanto, há qualquer coisa na sua tessitura e textura vocal que me inibem de alinhar nas comparações que foram feitas quando do seu álbum de estreia. Esse álbum foi sem dúvida importante para o Jazz Nacional por ser de uma cantora, ter alcançado os primeiros lugares dos top's, por ter o rótulo da Blue Note, mas depois de o ouvir e apesar de admirar a telegenia da cantora não fico totalmente covencido. Com este preâmbulo não retiro mérito ou qualidade à cantora, ontem assisti a bons momentos de Jazz vocal no Festival de Big Band da Nazaré, especialmente numa interpretação vigorosa do clássico dos clássicos "Summertime" ou ainda em "All of me", repetido no encore final.
Sinceramente o que me surpreendeu foi a qualidade global da Big Band do Munícipio da Nazaré, quase todos músicos locais, interpretações sem poeira ou receios exagerados. Em certa medida, o público reagiu melhor ao carisma e aos standards cantados por Jacinta. Quase todos eram conhecidos, mesmo de alguns ouvidos mais desatentos ao Jazz... Assim que Jacinta saíu, para mim, aconteceu outro concerto, onde avaliei a evolução extraórdinária de alguns músicos que já oiço à uns anos. Conhecia bem o Aurélien Vieira, pianista de alma, coração e corpo inteiro, um compêndio de ritmo e musicalidade. Não tenho dúvidas que é um músico de eleição. Prefiro ouvi-lo com o seu quarteto (todos muito jovens!) e gostaria ainda mais de o ouvir no meu formato de eleição: o power trio (Piano, bateria e baixo). Para além de executante e de alguns arranjos fiquei a conhecer a sua primeira composição que exemplarmente intitulou de first steps. Não pareceu!

O concerto e a prestação da orquestra teve outros bons momentos como a estreia de Miami Spice, ou o arranjo de Adelino Mota para o tema do nosso grande Sérgio Carolino e os seus TGB, Lili's funk. Adrelina e muito prazer a ser transportado dos músicos para o público. Só quando algo é genuíno esta sensação se propaga.

Como gosto muito de fazer homenagens a pessoas que apresentam trabalho e nem sempre são reconhecidas, aqui fica a minha sincera homenagem ao Adelino Mota. Acompanhei durante alguns anos o meio musical da nossa região e, por várias vezes, surgiram críticas infelizes ao Adelino Mota. Creio que a melhor resposta tem sido o sucesso do Festival de Jazz do Valado dos Frades e a qualidade da Big Band da Nazaré. Alguns dos músicos começaram na "sua" orquestra Juvenil do Valado, hoje estudam Jazz no ensino Superior, têm projectos paralelos e as suas próprias formações. Estão aqui várias promessas que devem algum do seu actual sucesso a este homem.
Ouvir o André Duarte (terá 17 ou 18 anos?) em diálogo com a Jacinta no encore final foi um momento que me comoveu de uma forma que concertos de grandes nomes não o conseguiram. De todo este texto e principalmente do concerto em que participei só fica uma mensagem clara: É possível. Com paciência, investimento, formação e amor a uma causa, os resultados aparecem e nascem carreiras e pessoas de valor, num país onde a mediocridade ainda coloca muitos entraves à qualidade.
All that Jazz!

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