quinta-feira, junho 09, 2005

O Erro de Carrilho

A estratégia de Manuel Maria Carrilho para as eleições autárquicas em Lisboa é clara e passa por impor uma imagem de planeamento e concepção numa perspectiva integrada. Dito de outra forma, propõe uma alternativa à gestão casuística e errante de Santana Lopes.
Aqui começa um dos primeiros problemas da campanha de Carrilho, o candidato é Carmona Rodrigues e não Santana Lopes. Carmona foi ministro e tem um perfil e currículo técnico no domínio das obras públicas. Terá certamente responsabilidade nos erros autárquicos, mas não era o responsável máximo pela autarquia.
A campanha de Carrilho tem outras opções estratégicas mais discutíveis, mas que fazendo parte de um contexto mais vasto poderão ser justificadas.
Para muitos portugues, Carrilho não é uma figura que gere empatia, são múltiplos os defeitos que lhe apontam, refugiam-se os críticos em questões de estilo pessoal e de vida, no snobismo do seu percurso, apesar de praticamente todos reconhecerem o mérito do seu trabalho. Acima de tudo Carrilho é pouco natural e não é um outdoor com o candidato em casual fashion o suficiente para inverter a tendência.
Tudo na campanha de Carrilho é demasiado formal, demasiado programado, com uma comunicação fria. Até a exposição excessiva da família pode gerar efeitos contraditórios, pela incoerência que revela perante posições assumidas à não muito tempo.
Em Lisboa estão duas maneiras de ser em confronto: a personalidade pacífica de Carmona e personalidade fracturante de Carrilho. Num período de cansaço da política e dos políticos a personalidade do primeiro é mais favorecida. As mudanças provocadas pelas eleições legislativas e pelo novo Governo vão gerar um sentimento de reserva perante a mudança o que impossibilita qualquer estratégia revolucionária.
O sucesso desta campanha reside no sucesso de duas ou três ideias ou conceitos chave para a cidade e na empatia que se gere entre os lisboetas e o candidato. Carrilho até pode capitalizar mais apoios para o PS na Lapa, por exemplo, mas tenho dúvidas que o consiga em Marvila, com a actual estratégia.
Para bem do candidato a estratégia tem de ter menos gaffes que as peças de campanha que foram lançadas até ao momento. Como alguém disse, há demasiado ruído em redor de Carrilho para que alguma ideia assuma a proporção desejada.
Está na hora do balanço.

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