quarta-feira, maio 04, 2005

Blair, Portugal e o Mundo

“L’ enfant terrible” do Socialismo europeu está à beira de mais uma vitória. Perdoem a suprema provocação que é utilizar a língua francesa para me referir a Tony Blair, mas não consegui evitá-lo. Para os que não repararam o Reino Unido está em processo eleitoral, que vai definir o novo chefe de governo. Blair é o virtual vencedor, resta saber por que margem. Os motivos da provável vitória são conhecidos e já passaram por este blog. Assim sendo, só vou realçar um número que coloca toda a Europa invejosa, o do desemprego: 5,6%! A Esquerda europeia ostracizou Blair e a terceira-via de Anthony Guiddens, o seu ideólogo, mas a verdade é que Blair está em alta, pois soube aproveitar as reformas duras, mas fundamentais, de Thatcher e catalisou o alento da abalada aut-estima dos britânicos.
Como referi, no artigo que mencionei, os paralelismos do governo de José Sócrates são evidentes, apenas falta a coragem de, pelo menos em nota de rodapé ou na bibliografia, referir a fonte de informação! São os estigmas dos chavões de Direita/Esquerda perante a crua realidade.
Teresa de Sousa, colunista do Público (apenas a pessoa que melhor escreve sobre a Europa na imprensa portuguesa), comenta que Blair transformou o sistema de Wellfare num sistema de Workfare, onde o próprio cidadão sabe que precisa de trabalhar e onde o trabalho é valorizado. Blair desceu à terra e percebeu que, neste momento, os princípios tradicionais da Esquerda só poderão ser conseguidos com o desenvolvimento da economia. Gerar riqueza para equilibrar a sociedade não equilibrar a sociedade gerando pobreza.
Sou um admirador confesso da política de Blair porque junta dois mundos que aparentemente eram inconciliáveis. No entanto, continuo a afirmar que se trata de um plano ideológico transitório e que a Esquerda democrática tem de encontrar uma fundamentação teórica que responda à evolução global e responda aos desvios e excessos das perspectivas ultra-liberais. A esquerda necessita de um plano global que, aliás já devia de possuir, para defender a economia mundial da explorção de mão-de-obra barata e sem direitos laborais. Isso requer tempo e persistência. Mais do que medidas proteccionistas contra a China ou países sub-desenvolvidos, vamos ter de nos adaptar a uma nova realidade, perder alguns direitos instituídos, e lançar o apelo ou a sedução do modelo europeu para esses países, que à medida que cresce a sua economia e educação aumenta a cidadania e a ambição de direitos que a Europa representa. Trata-se de uma perspectiva pessoal do que poderá acontecer a longo prazo, à qual voltarei brevemente.
Voltando às eleições britânicas, uma vitória de Blair representa a maturidade do modelo que preconizou e que foi brilhantemente implantado pelo seu actual Ministro das Finanças Gordon Brown e, ao que parece, futuro primeiro-ministro a meio do próximo mandato. Esta terceira-via de Blair falhou noutros países da Europa, por diversos motivos, apresento dois:
Alguns da mesma forma que a começaram cedo a abandonaram.
A outros faltou um factor essencial para o sucesso, a habilidade política que o modelo requere. Não basta dinamizar a economia, as políticas sociais têm de ser sólidas e garantir resultados. É uma política de limbo, barely right/barely left. Conseguir este equilíbrio não está ao alcance de todos.
Regressando a Portugal será que José Sócrates irá consegui-lo ou a corrente socialista francesa vai fazer uso dos seus pergaminhos? A este propósito recordo que estamos na era digital ou, como é mais correcto, numérica!

Sem comentários: