quarta-feira, fevereiro 09, 2005

O Berlusconi falhado

“[...] Tudo isso vai muito para além dos passos em falso do actual Governo. O problema do vosso Governo é que não é Berlusconi quem quer, é Berlusconi quem pode. O vosso primeiro-ministro gostaria de ser Berlusconi mas não tem nem os instrumentos, nem o talento, nem o savoir-faire. Se um Berlusconi bem sucedido é, já de si, perturbador para um velho democrata, um Berlusconi que falha é ainda mais perturbador. Embora tenha a vantagem de ser passageiro.”
Alain Minc, in Público

Alain Minc deu, ao Público, uma das mais extraordinárias entrevistas dos últimos tempos a um órgão de imprensa portuguesa. Fala de Portugal e do seu trajecto na Europa de uma forma elogiosa e declara que o actual estado clínico do país se deve a uma depressão pós-parto! O esforço de integração na Europa e, em particular no Euro, foram o parto: “Agora que deram à luz entraram em depressão”. Não tão agradáveis foram as palavras para Santana Lopes que transcrevo no início do post.
Noutra secção da entrevista, Minc refere que a “democracia de opinião” (a que vivemos) gera dois tipos de políticos – como Blair, que tem uma visão, e como Berlusconi, cuja visão se limita a querer ocupar o poder.
Em qual destes casos se encaixam os nossos políticos? Santana Lopes já sei... gostava de comparar José Sócrates a Blair, mas não consigo fazê-lo sem sentir que estou a trair a minha consciência.
Alguns de vós perguntarão, mas quem é Alain Minc para merecer toda esta honraria? Para vos explicar recorro às palavras de Teresa de Sousa responsável pela entrevista para o jornal Público. “Figura incontornável no meio intelectual francês, Alain Minc tem, desde há décadas, a capacidade de marcar a evolução do mundo com obras que fazem sensação [...]. É consultor de empresas e de governos e presidente do Conselho de Administração do jornal parisiense Le Monde”. Parece-vos credível?
O que dirá este homem aos governos e presidentes de multinacionais sobre o actual governo português?

“[...] Tudo isso vai muito para além dos passos em falso do actual Governo. O problema do vosso Governo é que não é Berlusconi quem quer, é Berlusconi quem pode. O vosso primeiro-ministro gostaria de ser Berlusconi mas não tem nem os instrumentos, nem o talento, nem o savoir-faire. Se um Berlusconi bem sucedido é, já de si, perturbador para um velho democrata, um Berlusconi que falha é ainda mais perturbador. Embora tenha a vantagem de ser passageiro.”
Alain Minc, in Público

2 comentários:

capeladodesterro disse...

Não podemos fugir à globalização! No entanto, penso que devias dar mais atenção à personalidade em questão do que propriamente ao facto de ser estrangeiro... Um abraço

capeladodesterro disse...

Que pena não teres escolhido para colocar no teu comentário um dos motivos que Minc avança para o crescendo do fenómeno neo-conservador nos Estados Unidos. Creio que esse é o melhor momento da entrevista... Trouxeste a Espanha e Aznar o que não espanta. No entanto devo dizer que esse será mesmo o lado mais questionável de tudo o que Min refere. O sucesso da Espanha mede-se pelo seu todo e não apenas por Gonzales ou Aznar...
Aconselho ainda algumas obras do autor para que possas pensar pela tua própria cabeça! Talvez "A Embriaguez Democrática" (Difel). Grande Abraço (temos de discutir td isto ao vivo)