Durante muitos anos o papel da percursão foi desvalorizado por público, compositores e até instrumentistas. O século XX e a denominada música contemporânea ou erudita, para além do Jazz, alteraram significativamente esta realidade. Compositores e instrumentistas oferecem-nos pedaços de genialidade, logo de excepção. É isso que transforma a arte naquilo que gosto de designar paradoxalmente como fenómeno eterno. Na primeira linha da vaga de percussionistas que têm transformado a imagem (e o som!) da percussão em Portugal, está Manuel Campos, meu conterrâneo, que actuou no cine-teatro de Alcobaça a solo e em duo, com Stephanie Wagner. Com um programa exigente, para músicos e público, marcaram-me as interpreações a solo, na marimba, principalmente da obra de João Pedro de Oliveira, um dos nossos maiores compositores contemporâneos, mas desconhecido do grande público. A exigência da obra na utilização dos limites da marimba obrigava o músico a um esforço físico constante que por vezes se assemelhava a uma dança, ao melhor estilo das performing arts.
Lateral à música, mas importante no contexto do concerto, foi todo o ritual de preparação dos diferentes acessórios necessários à execução de cada peça. Tudo feito com ritmo e a delicadeza que se sente quando o Manel toca.
Se os amigos que lêem este texto ainda consideram que o percussionista continua a ser o "Boy with toys", desenganem-se! Trata-se de música pura. Se mesmo assim não acreditam no cronista então aconselho em paralelo um dos bateristas de Jazz que toca com o trompetista Dave Douglas: Clarence Penn.
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