sexta-feira, abril 08, 2005

O poder sôfrego dos media

Ponto prévio: detesto diabolizações.

Especialmente aquelas que se apressam a determinar um único culpado, uma fonte de todos os males, um pretexto para a não-reflexão. Assim sendo, espero que este texto não seja encarado dessa forma... A mediatização que o Mundo e das suas principais figuras tem conduzido a extremos incontroláveis, de despudor e histrionismo que não auguram uma relação saudável entre o consumidor e a fonte de informação.
Do pretexto do direito de informação à espiral sôfrega que assistimos vai um pequeno, muito pequeno passo. Todos os meios de informação querem dar a última imagem de João Paulo II, a última imagem de Yasser Arafat, para isso violam o direito de reserva que a morte merece, a construção da nossa memória individual, em detrimento de visões estereotipadas e comentários apressados.
Neste momento existe pouco de novo para dizer e principalmente não é tempo para dizer muito. Morreu o Papa. O respeito pela sua mensagem necessita de recato, de introspecção. Não sendo católico, tenho um respeito profundo pela Igreja e pela cultura que lhe está associada (o nome deste espaço demonstra-o). Como tal, sempre respeitei e compreendi as posições de João Paulo II, mesmo aquelas com as quais mais discordava. Por tudo isso presto uma homenagem simbólica inaugurando um novo espaço de citações sobre o nosso Mundo, com referências a um dos melhores artigos que li sobre João Paulo II. Faço-o em silêncio, para que consiga escutar o seu legado e escolher o meu caminho.
Os media são para mim um veículo de informação para me fazer chegar essa mensagem, nada mais. Não precisam de gritar, repetir à exaustão que o Papa morreu, a qualidade não se mede pelo número de horas de emissão, pelo número de directos. Choca-me que haja quem pague e quem receba 20 mil euros por um terraço para filmar o cortejo fúnebre. Terão mudado assim tanto as carências do Mundo desde a última vez que João Paulo II discursou?

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