O Acossado
(Versão corrigida!!)
Pela dor que me contorcia o corpo e me obrigava a retroceder na ecúmena humana ao estádio pré-Homo Erectus. Novamente a dor e, de instinto, a mão nas costas como a varina para contrabalançar com o peso que carrega. Saída forçada da entrada do metro e a desistência do estipulado num regresso forçado a casa no elevador da Glória (mas sem ela). Mais um espasmo sísmico a partir de epicentro improvável, algo tipo horizontal esquerda e vertical centro.
A sensação que nem a fadiga do metal que já deve apoquentar este monumento nacional que sobe e desce desde 1885 deve ser tão forte como a dor deste corpo de 27 anos.
Escadas e mais escadas, maldito 5.º andar, logo hoje. Entrada em casa, troca de palavras com as pessoas que interessam e decisão sensata. Destino: Centro de Saúde.
No nosso pequeno país é difícil estar fora cá dentro. Anulada a inscrição no centro de saúde de origem foi necessária uma inscrição esporádica (É mesmo assim! O SNS goza de saúde literária) e não provisória, assim como espero que seja a dor.
Mais um balcão e dois euros... não é caro. A sala de espera tem daquelas coisas que anunciam “A sua vez”, mas não tinha a minha vez e pelos vistos de muitos outros. Uma sala acanhada, ventoinha central pronta para o escalpe de gullivers com mais de 1, 95m, janela e portada digna de um cárcere conventual, ao lado uma estampa da Virgem e o Menino dum baixo-relevo em mármore. Noutra parede mais uma estampa pomposamente emoldurada com pass-partout, um jardim das delícias repleto de anjinhos ociosos. Em frente outra obra de inegável valor estético, à la mode expressionista, barcos encalhados na maré baixa. Era assim mesmo que me sentia, encalhado na maré baixa, imóvel à espera de uma boleia da próxima maré.
O enfermeiro gentleman, o mesmo que me irá injectar a poção mágica, leva-me ao Doutor e, apesar do tormento que foi a auscultação (logo agora! Não chegava o frio do estetoscópio...), senti-me muito melhor. Saí sem respostas ao problema, cada vez mais me convenço que sou um caso de estudo para a ciência médica.
O que se passou de seguida teria de ser escrito em câmara lenta para expressar o que foi a minha noite... Adeus... (muito devagar)... até... à... próxima
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