Talvez em 1996, numa qualquer noite de domingo, vegetava em frente à televisão num zapping ansioso por qualquer coisa... sem saber bem o quê. Começa um filme com um actor americano geração X e uma actriz francesa, de físico delicado e sorriso atrevido, mas desarmante. A história é simples, conhecem-se num inter-rail e passam uma noite em Viena à espera do amanhecer. Um walk-movie, que merecia um patrocínio incondicional da Johnny Walker (não se terão lembrado disso??!!), onde o mundo, o nosso e o deles, está em permanente discussão. Diálogos que deambulam entre a complexidade e a simplicidade, mas de bela sagacidade, que nos hipnotizam o sorriso. Profundamente romântico, mas com equilíbrio narrativo na acção (?!) e na relação das personagens, sem espaço para banalidades como números de telefone ou moradas, apenas uma promessa: seis meses depois estariam novamente em Viena.
A sequela seguindo os moldes convencionais começaria neste encontro, mas não o fez. Começa numa pequena livraria francesa (Shakespeare & Companhia, que nome e local fantástico) onde o americano (Ethan Hawke) apresenta o seu primeiro romance inspirado nessa noite. Estando em Paris, a francesinha (Julie Delpy) aparece e ambos iniciam uma promenade com palavras até anoitecer, altura da partida do americano em Paris.
A qualidade do texto (escrito por realizador e actores!!) mantém-se e o fundo parisiense torna o filme, à imagem do anterior, rico na imagem e na palavra. Harmonia absoluta. A espiral de emoções das personagens termina num momento sublime, mas inesperado para final. Nos últimos tempos foi um dos melhores momentos de cinema a que assisti, absolutamente deslumbrante a imitação de Nina Simone... só uma actriz fã da cantora poderia representá-la ou caricaturá-la daquela forma. Sublime! É isto que torna os dois filmes fascinantes, os gostos das personagens são os gostos dos actores , tem tanto deles como de nós próprios, as vidas que ali se cruzam são também as nossas, mudem-lhes os contextos, coloquem Lx em vez de Paris e provavelmente encontram semelhanças...
Absolutamente a não perder.
“Até ao Amanhecer”(Before Sunrise), 1995
“Até ao Anoitecer” (Before Sunset), 2003
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