quarta-feira, maio 04, 2005

A vida continua, mas custa...

Estou de volta ao meu blog depois de mais um infortúnio com os amigos do alheio, do qual não posso descartar as minhas responsabilidades. Muito resumidadmente, o meu carro foi assaltado no Campo das Cebolas (a 50m do Ministério das Finanças!) e levaram-me o meu computador portátil comprado em Janeiro deste ano. Levaram ainda uns livros que tinha comprado no próprio dia na Feira do Livro da Gulbenkian. Curiosamente levaram os mais baratos e deixaram os mais caros. Este prejuízo foi de 15€, já o outro foi muitas vezes este valor.
Um rude golpe a todos os níveis, moral, financeiro, e na minha produtividade profissional e cívica. Sem computador vai ser mais difícil, valem uns minutos da hora de almoço e algumas horas do fim-de-semana.
Sempre falo com alguém sobre o crime recordo-me sempre do caso de New York. Há alguns anos era uma das cidades mais violentas do Mundo, mas conseguiu inverter esta realidade para uma bem mais positiva. Algumas das suas medidas mais emblemáticas passaram por perseguir e punir a pequena criminalidade, desde os grafittis até aos pequenos furtos, como o dos automóveis. Só isso era garantia de umas noites na cadeia. Para além disso os polícias foram preparados para a nova realidade do crime, a sua dureza e a especificidade de um país onde não se falava apenas inglês. Toda a questão do crime foi encarada com rigor.
É isso que falta em Portugal. Faltam meios para a Polícia, falta autoridade da mesma, falta celeridade na Justiça, mas faltam também valores. Esses, como sabemos, só nos são dados nas escolas ou em casa. A desestruturação familiar é uma área de difícil intervenção do Estado, mas a Educação aguarda ansiosamente que se abandonem as pedagogias relativistas que ainda vigoram. Trabalho e autoridade (não autoritarismo, por isso não se assustem!) têm de ser uma mensagem subliminar da nossa Escola.
O combate à droga, que seguramente foi o móbil do crime que fui alvo, continua a não dar resultados e a tensão social contra os toxicodependentes cresce. Poderemos estar na iminência de se instalar na Sociedade uma ansiedade por medidas mais proteccionistas, mais duras, que releguem a droga como patologia para segundo plano. Será cínico certamente, mas compactuar com todo o pequeno crime da forma complacente que se faz em Portugal, não pode dar bons resultados no futuro.
Quando vejo a extrema-direita a crescer na Europa e as políticas de repressão contra o crime e me interrogo porque é que o fenómeno não atinge as mesmas proporções em Portugal, só me surge uma resposta. Portugal tem 31 anos de Democracia, é muito pouco para um país que viveu tanto tempo sobre uma ditadura de extrema-direita. Só a utilização deste jogo de palavras, um pouco estereotipadas, serve para nos assustar. Esta perspectiva vai mudar, da mesma forma que já mudou até agora e nessa altura como será?
Ao receptor do meu portátil, que é mais ladrão que o desgraçado que mo roubou, e ao futuro feliz proprietário só mês resta desejar que, apesar dos 5 meses que tem, vos dê mais problemas do que aqueles que tive até agora... e foram bastantes.
A primeira medida para o combate a este tipo de criminalidade passa por darmos o exemplo e não comprarmos material roubado. Pessoalmente, por umas centenas de euros, comprava outro semelhante, mas só o facto de sabar que alguém passou pelo mesmo que eu passei, retira-me por completa essa necessidade material. Não precisem de passar por isto para tomarem medidas. Não comprem nada que suspeitem que seja roubado, se o fizerem estarão a alimentar a hidra.

2 comentários:

Anónimo disse...

Ora aqui está um texto que te terá dado especial prazer a escrever, a avaliar pela quantidade de vezes que o teu carro foi assaltado!
Pergunto a mim mesmo se o dito combate não estará directamente interligado com as linhas mais básicas dos nossos governos, senão vejamos: o "pequeno" roubo só existe por poucas razões: porque é alimentado por todos quantos, fervorosamente, procuram todo o tipo de material quase novo por preços irrisórios, alimentando autênticas redes organizadas e onde por vezes, determinado tipo de material regressa aos locais de venda, e porque existe o negócio da droga a alimentá-lo.
Se as nossas políticas económicas inverterem o rumo, as políticas sociais sejam o que o próprio nome indica e as legislativas funcionarem com esperamos, amanhã talvez esta tua pequena história seja um absurdo. Talvez!
Por isto e por muito mais, quão bom é viver na aldeiazinha "onde nada se passa" (por enquanto...)
João Santos

capeladodesterro disse...

O fenómeno da fuga para a "aldeiazinha" sente-se e de que maneira!