quarta-feira, maio 25, 2005

"Mais Música Novaaaa"

Daqui a algumas horas começa o debate parlamentar mais incómodo para a política nacional dos últimos anos. Pelo menos deveria ser assim, face à responsabilidade transversal do défice público do nosso país. No entanto, apesar da gravidade do assunto e da responsabilidade inerente, não deveremos assistir a nada de inovador no guião dos nossos parlamentares.
José Sócrates tudo fará para justificar a necessidade do aumento de impostos e rebater o repisar da oposição no imcumprimento das promessas eleitorais. Não resisitirá a mandar umas bicadas nos anteriores governos "que deixaram o país na situação em que se encontra". Não o deveria fazer, cumprir a promessa eleitoral de não passar a vida a falar dos anteriores governos, garantir-lhe-ia um distanciamento do guião trivial que referi. Deveria deixar essa refrega para o seu grupo parlamentar. Melhor ainda, nem o grupo o deveria fazer, uma vez que são conhecidas as responsabilidades do PS nesta situação.
Do PSD não se espera nada de sério. As recentes palavras de Marques Mendes deixam antever a oposição do contra: "somos contra o aumento de impostos" e "O Governo tem de reduzir na despesa". São tiradas que, ao nível do conteúdo, são muito semelhantes ao texto de Marques Mendes publicado no Público. Insipiência total. "O Primeiro-ministro mentiu aos portugueses" - será a frase de eleição do PSD. Propostas e convergência com o Governo será de evitar, pois a alteração do clima político com estas medidas duras do Governo já está a despertar o ambiente interno do PSD, expectante que possam ser capitalizadas nas eleições autárquicas. Irá o PSD pensar nos interesses nacionais mais do que nos partidários? Não parece. As últimas eleições foram uma derrota pesada demais para um partido ambicioso e desejoso de governar.
Os partidos mais à esquerda serão os contestatários habituais, não vão querer o discurso da tanga e a obsessão do défice, mas não fornecem uma alternativa. O Bloco falará na reforma fiscal sem conseguir explicar aos portugueses porque é que a reforma fiscal de António Guterres, incontestada e mais justa na teoria, não funcionou na prática. É fácil, aos mais ricos é mais aceitável deslocalizar os seus rendimentos do que pagar impostos mais pesados no seu país!
Quanto ao PP a dúvida é saber se o táxi chegará a tempo ao Paralamento, de forma a permitir que o partido apresente uma qualquer ideia nova, mas provida de responsabilidade. Algo que faltou na acção governativa dos seus ministros, quase todos eles debaixo de fogo.
A sessão de hoje do parlamento já me faz lembrar aquela rádio com um jingle insistente: "Mais Música Novaaaa!". Na verdade a música é sempre a mesma... assim estamos de política. Pode ser que esteja enganado...

1 comentário:

Humbertothewizard disse...

Eu penso que o povo é o maior culpado nesta história, uma vez que crucificou um líder de um governo com quatro meses apenas de governação, entregando quatro longos anos a um outro que nem sequer tinha programa nem alternativa ao anterior. É como se diz que casa onde não há pão, todos ralham e ninguêm tem razão. José Socrates não tem outra opção, na falta urgente de dinheiro, de promulgar medidas que ninguêm gosta. Mas porque não vai ele buscar ao Grão-Pará e aos outros Grãos-Parás aquilo que precisa, ao contrário de emagrecer os bolsos da classe média e dos trabalhadores por conta de outrém?