terça-feira, maio 17, 2005

“Acabou a austeridade” – recordam-se?

Infelizmente em Portugal a verdadeira austeridade nunca foi implantada. Não a austeridade financeira, mas a austeridade que acompanha a ética política.
Quantos de vós não estão imediatamente a ser assaltados pelo seguinte pensamento: “Ética política? Mas será que ele ainda acredita nisso?”. Sinceramente tenho dúvidas, mas acredito na existência de alguns guardiões do templo, o problema é que quase todos são renegados partidários, persona non grata, que se afastam ou são afastados perante a “desmocracia” que fervilha nos nossos partidos. Na política existem culpados, mas raramente existe a culpa. Aos culpados perdoa-se, já a culpa desvanece-se. Passado pouco tempo regressam os culpados, sem culpa, aptos para criar novos culpados. A culpa também é nossa, quanto menor for a participação cívica e política dos cidadãos, menor é o leque de escolha para cargos políticos, permitindo esta rotatividade de figuras culpadas, mas sempre com desculpa. Em Portugal ainda falta é austeridade eleitoral. Os resultados das últimas eleições carregaram essa austeridade, mas aposto que dentro de uma dezena, quinzena de anos, teremos as mesmas figuras que castigamos no presente imaculadas numa qualquer candidatura. Ainda veremos Durão Barroso e talvez Santana, este apenas depois de casar novamente, como presidentes da nossa República, depois da brilhante gestão que fizeram da nossa res pública.
O novo Governo está também refém da falta de austeridade que manifestou em declarações eleitoralistas, que muitos consideravam perniciosas. Não fugi desses alertas. As Scut são a face visível de um bom princípio teórico, mas sem austeridade financeira. O não aumento dos impostos, em circunstância alguma, idem. Assim como os despedimentos na função pública.

“A austeridade acabou” - disse o messias, que já teve a sua Alcácer-Quibir. A verdadeira questão é se algo pode ter acabado ainda antes de ter começado. Filósofos do Mundo, uni-vos!
Portugal continua a ser capaz de quebrar tabus, mas tenho dúvidas que consiga quebrar o misticismo de alguns números, por exemplo do 3 e do 7.
“Ai Portugal, Portugal, de que é que estás à espera?” – cantava Jorge Palma. Parece que a resposta é evidente: austeridade.

1 comentário:

Anónimo disse...

Nunca tantos deveram tanto a tão poucos. É mesmo assim, as tuas linhas preenchem o vazio que existe na nossa comunicação social, escolas e demais. Ninguém tem coragem para olhar de frente este país. A última oportunidade perdida (maioria absoluta?!) ou estão à espera de D. Sebastião C. Silva? Tristeza! Não há problema, continuaremos os mesmos a trabalhar 147 dias por ano só para impostos. Produtividade? Esquece. Continua Miguel, devemos-te muito porque a qualidade não é só um fim, é também um caminho. Saudações Ginasistas.